terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os jovens e a violência



Uma recentíssima pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, coordenada pelo economista Marcelo Néri, mostra que a juventude brasileira é a principal causadora e a maior vítima da violência no país. Em seu texto conclusivo, o economista faz uma comparação entre o flagelo da inflação a que o Estado brasileiro fora obrigado a combater nos anos 80 e 90 e a violência que ora assombra o país. Para ele, a batalha contra o dragão da inflação levou anos, mas de alguma forma foi contida. No caso da segurança, não. Estamos perdendo a guerra. Marcelo vê o problema como resultado da mania dos brasileiros, em particular, da elite que não pensa coletivamente. “Tomo as minhas decisões privadas e individuais, cuido dos meus problemas, enquanto os outros cuidam dos problemas deles, eu reajusto o meu preço, eu contrato a minha segurança, e tudo bem.”

A pesquisa enumera algumas questões consideradas o calcanhar-de-aquiles do problema da insegurança, tais como: acidentes de trânsito, consumo de drogas e o problema dos presidiários. Todas estão ligadas ao jovem, seja como vítima, quanto de algoz do drama da violência. E o interessante é que a violência tem aumentado na medida em que indicadores sociais, como: renda, expectativa de vida, etc, têm melhorado no Brasil. A pesquisa mostra também que o usuário declarado de drogas é, como no caso dos demais problemas estudados pelos pesquisadores, jovem homem solteiro: 86% tem entre 10 e 29 anos, e 99% são do sexo masculino. Em sua grande maioria são brancos (85%) e pertencentes a classe A, 62%.

O consumidor de drogas no país, segundo os resultados da pesquisa, faz parte de uma elite econômica. São eles os maiores responsáveis pela formação da demanda de drogas ilícitas no país. Partindo do pressuposto de que sem demanda não há oferta, e de que se não há oferta não há vendedores, podemos dizer que os maiores responsáveis pelo tráfico de drogas no país estão no seio da elite econômica brasileira. Estão nas classes A e B os maiores clientes dos traficantes. E está claro que o tráfico de drogas é um dos principais causadores da violência no país.



Também pode ser atribuído aos jovens das classes mais abastadas, homens como maioria esmagadora, o título de principais causadores de acidentes de trânsito no Brasil. Foi citado, inclusive, pelo autor do texto da pesquisa um jargão às avessas: “Homem ao volante, perigo constante”.

A considerar que os jovens das classes C e D são responsáveis pela formação de boa parte da população carcerária do país, fica fácil afirmar que a juventude está no cerne do problema da violência. São eles as vítimas e os algozes de si mesmos.
O coordenador da pesquisa, Marcelo Néri, defende a tese de que as ações do Estado devem ser desencadeadas em loco, não com leis federais que atinjam, da mesma forma, todos os estados da federação, mas que sejam aplicadas ações conforme as peculiaridades de cada região do país. Para ele: “O Brasil tem mania de impor leis nacionais e não testa-las no âmbito estadual. Como resultado, fracassamos muito em escala nacional e aprendemos muito pouco com os nossos erros e acertos.”

Esse é um problema que atinge a todos, desde os grandes centros urbanos, até as pequenas cidades do interior, e deve ser encarado pelas autoridades e pela sociedade. Descobriu-se parte do problema. Encontrar a solução para ele é um desafio e tanto para o país. Diferentemente de se enfrentar o dragão da inflação, cuja guerra fora vencida com algumas canetadas, essa batalha é bem maior do que se imagina, e depende muito mais de meras aplicações de Leis e normas. Talvez a questão esteja diretamente ligada à conquista da democracia, cujos benefícios, como a liberdade, por exemplo, nós ainda não aprendemos a conviver.

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